Somos todas Conceição.

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^6C6CA8F1B42ACAD2B1D0C1E2E65D3BE4403F5B3CF03C326401^pimgpsh_fullsize_distrNa proximidade de mais um Dia Internacional da Mulher,falámos com uma “guerreira” de 70 anos, senhora de uma vida plena de lutas e vitórias, e também com mulheres mais jovens, para saber o que esta data ainda lhes pode dizer…

Há controvérsia sobre o assinalar do 8 de março, pois são muitos os que acreditam não haver já razão para isso. Outros, pelo contrário, acham que vai levar ainda muito tempo até se atingir a tão ambicionada – e justa – igualdade em diversas áreas da sociedade, como a laboral, a título de exemplo, e muito certamente a mudança de mentalidades.

Isto, porém, sem que a mulher precise abdicar das características inerentes à condição feminina, na diferente sensibilidade de sentir e viver a vida.

A Wikipédia dá-nos algumas versões para a origem deste Dia, que terá surgido nos primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de vida e de trabalho, bem como pelo direito de voto. E se hoje já não se assume tanto com o espírito de “luta pela igualdade de direitos” que o fez nascer, continua a ser uma data importante de assinalar, nem que seja como homenagem às mulheres, nos múltiplos papéis que desempenham na sociedade, de trabalhadoras, centro do núcleo familiar, fonte da Vida.

História de uma “mulher de armas”…

Casou aos 17 anos e quando enviuvou, com apenas 43, tinha 5 filhos.

Conceição já completou 70 anos plenos de energia e bom astral.

Sentadas à mesa da cozinha da sua bem estimada casa centenária, desfia memórias de que a amargura não faz parte, mas sim a serenidade de tudo ter conseguido… O quê?

Filha de uma família numerosa, num tempo em que as raparigas eram mais prendadas, sabia fazer de tudo um pouco. Quando casou, a estabilidade financeira deixou que se dedicasse ao lar e aos filhos que foram nascendo a partir dos seus 18 anos. Também ajudava o marido numa empresa deles, mas a vida corria tranquila, feliz.

Até que, tinha Conceição 35 anos, o marido adoece gravemente e a sua vida muda, “numa volta de 360 graus”.

O futuro estava aí, tão instável quanto desconhecido. O marido dava-lhe força: “tu vais conseguir acabar de os educar”, dizia-lhe.

E numa decisão corajosa, “antecipando que iria precisar de maior conhecimento”, Conceição voltou à escola para fazer o antigo 5º ano liceal. Empenhada, fez cinco anos em três, com organização e regras em casa e o apoio dos filhos mais velhos…

– Como é que eles reagiam a tudo isto?

“Quando o meu marido morreu, em 1989, reuni-os e disse-lhes que duas coisas eu prometia nunca iriam faltar: a alimentação e a educação… E que o resto se veria.Cumpri.

“Mas uma coisa estava a favor: sempre os tínhamos habituado com muito respeito pela figura dos pais, muita partilha em família. E fora do tempo de aulas eram incentivados a trabalhar, manter-se ativos, viajar…foi assim que conseguimos ficar unidos.”

Conceição trabalhou em Misericórdias, mas “agarrava” outras responsabilidades e serviços, tratando de pessoas idosas ou como baby sittter. E em casa ainda fazia bolos, doces e salgados para fora.

– Dormia?

“Algumas horas, muito poucas. Três, às vezes quatro, às vezes não.

Tinha de organizar muita coisa em casa para poder estar tantas horas fora. E por muito cansada que às vezes me sentisse… não dá para pensar em nós, a gente pensa ‘olha o que eu tenho às costas!’ E andamos em frente.”

Acredita que religião e fé ajudaram. Todos os filhos se formaram, construíram as próprias famílias, deram-lhe netos.

E Conceição para, agora? Não.

Transformados alguns quartos da sua grande casa / quinta, passou a gerir um pequeno negócio de Turismo, com hóspedes que logo lhe tomam amizade.

E voltou a estudar na universidade, onde aprende Informática, Língua Portuguesa, Medidas e Sinais no Tempo, e faz Ginástica de manutenção.

– Tudo isso? – pergunto.

Responde a rir que também já esteve no inglês e experimentou o Tai-Chi.

Mais palavras para quê? É uma mulher portuguesa de muita fibra, que também está sempre pronta para ajudar ou outros e gosta de rir e conviver.

Por isso já marcou nesta Páscoa um passeio a Guimarães e, entusiasmada, explica a que lugares, que ainda não conhece, essa excursão a vai levar.

***

As mulheres mais jovens poderão pensar que estas histórias pertencem a “heroínas” de outras gerações, mas a verdade é que em algum momento mais difícil das nossas vidas todas viremos a ter a força e a coragem de ultrapassar problemas e dores e seguir em frente, determinadas.

Porque somos mulheres e mães não há outro caminho a não ser o de lutar pelo nosso trabalho, pelas nossas famílias e pela esperança num futuro melhor.

Tudo o que sabemos passaremos a filhos, a netos.

Tudo o que não nos derrubar vai tornar-nos mais fortes.

A luta pode ser constante e cansar, às vezes. Mas também nos dará um sabor pleno de realização e de vitória.

Porque todas somos sobreviventes, no orgulho de ser mulher.

Agora e sempre, somos todas Conceição.

O QUE ELAS DIZEM SOBRE O DIA…

2 mulheres jovens são a favor de se assinalar esta data, acreditando que há trabalho a fazer até se alcançar a verdadeira igualdade de géneros…

– Cristina Silva, 32 anos – Consultora Imobiliária

(Licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE)

Acredito em homenagear as mulheres, para mostrar o seu papel e importância crescente na sociedade. Só que atualmente este dia tem perdido algo da sua essência e valor, tornando-se uma data rodeada de muito marketing, já para não dizer altamente comercial. Sim, já não é a mesma coisa, mas continua a fazer falta e seria necessário que, cada vez mais, todos os dias fossem Dia da Mulher!

– Eunice, 32 anos, psicóloga – Consultora em Recursos Humanos

(Psicóloga, Licenciada pelo ISPA)

“Parece que hoje em dia é moda criticar tudo… a crítica faz parte, aliás, da capacidade cognitiva/ratio tão característico do ser humano. Por vezes, caímos até no erro de criticar o incriticável.

Parecem-me um pouco exagerados todos os movimentos “anti dia da mulher” criados nos últimos tempos. E com todo o respeito que é merecido a opiniões distintas da nossa, estas manifestações surgem numa tentativa camuflada e triste de desvalorizar a comemoração do dia, com a desculpa de que a mesma não promove a igualdade entre géneros.

Ora, perante a comemoração não está em causa o pensamento de que as mulheres só devem ser respeitadas e tidas como iguais aos homens neste dia e não em todos os dias do ano (e não fosse eu mulher, mãe de uma menina).

Está sim, em causa, o direito de comemorar a “vitória” dos movimentos feministas e todo o trabalho feito no passado, com vista à instituição (pelo menos escrita) de direitos iguais para as mulheres. Não é porque as nossas fronteiras já estão instituídas há mais de 500 anos e fazemos parte da UE que vamos deixar de comemorar o dia de Portugal, certo? Então, não desperdicemos a nossa energia em discussões que nada acrescem.

Canalizemos a comemoração deste dia para nos lembrar que há ainda trabalho a fazer para que haja verdadeira igualdade entre géneros. Procuremos, sim, focar-nos agora, depois de conquistados no papel os mesmos direitos, mudar as mentalidades para que essa igualdade exista verdadeiramente e se perpetue de forma clara, genuína e inquestionável na mente de todas as pessoas e sociedades contemporâneas. E já agora, bom dia da mulher!”

Entrevistas e texto:

Maria de Lurdes Godinho

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SOBRE A “IGUALDADE DE GÉNERO”

A igualdade entre mulheres e homens é um princípio fundamental da Constituição da República Portuguesa, sendo tarefa fundamental do Estado a sua promoção. A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) é o organismo nacional responsável pela promoção e defesa desse princípio, “procurando responder às profundas alterações sociais e políticas da sociedade em matéria de cidadania e igualdade de género.”

A CIG coordena Planos Nacionais, designadamente nas áreas da violência doméstica e de género, e tráfico de seres humanos, com serviços gratuitos como o de Informação Jurídica e Apoio Psicossocial, que podem ser solicitados presencialmente, mediante marcação prévia por telefone.

Contatos úteis:

Tel.: 217 983 000; cig@cig.gov.pt

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