Ginásios tem mesmo má qualidade do ar?

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Sim, parece terem. E além dos problemas decorrentes de espaços sempre ou quase sempre fechados, existem também, em alguns casos, estranhas atitudes no que diz respeito ao modo temporal da limpeza desses espaços. Mas já lá iremos…

É incontornável: o fim das Festas de Natal e Ano Novo traz geralmente alguns quilos a mais e, com eles, o rápido regresso aos ginásios, onde a frequência terá baixado um pouco no mês de Dezembro com os preparativos e eventos de um mês festivo.

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Mas em Janeiro, com algum sentimento de culpa sob o fato se treino, eis-nos em grande regresso e motivação para rapidamente conseguir afinar as linhas corporais e abater algum stress…

Até aqui, tudo bem!

 

LIMPEZA, A QUANTO OBRIGAS…

Domingo à tarde, no ginásio de uma conhecida cadeia de health clubs…

A hora de fecho seria às 18 horas, com atividades até às 17,30h.

O sócio chega às 16,15h e inicia o treino na passadeira.

Pouco depois, tanto ele como outros sócios que pedalam numa fila atrás, vêm chegar dois funcionários da limpeza… Isto pelo menos 1 hora antes de encerrar atividades.

Enquanto um varre, mesmo ao lado de quem treina, o outro começa a aspergir produto de limpeza, naturalmente tóxico, sobre as máquinas que estão livres.

Máquinas estas que poderão voltar a uso a qualquer momento pelo que, no mínimo, essa limpeza terá de ser repetida mais tarde.

Há um casal idoso, com problemas de alergia. Tanto eles como outros sócios recuam para a zona de bicicletas. Mas pouco depois a limpeza faz-se também aí, a poucos centímetros de narizes já incomodados…

É que, independentemente de se ser alérgico ou não, tais sprays são extremamente incomodativos para as vias respiratórias e stressantes para quem, afinal, foi até ao ginásio para descontrair.

Pergunta-se a um dos funcionários se ele pode esperar mais um pouco.

Responde que não podem parar a limpeza e continuam afoitamente a aspergir produto, condicionando o movimento de alguns utentes, por cauda do constante Fsssssshhhhhh…

Finalmente, chega a hora de acabar atividades. E alguns sócios querem saber, na receção, se isto é possível: em plenahora de treino apanhar com produtos agressivos enquanto estão nas máquinas…

A rececionista lamenta, mas diz que são ordens superiores. Ponto final.

 

SAÚDE VERSUS POLUIÇÃO… NOS GINÁSIOS.

 

Os investigadores mostram maior preocupação com a contração de químicos, que ultrapassam muitas vezes os limites estabelecidos a nível europeu

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Segundo um estudo recentemente publicado pelo “The New York Times”, quem faz exercício físico em estradas altamente poluídas acaba por respirar partículas nefastas e, com isso, tem um risco acrescido de contrair uma doença cardíaca, mesmo que esteja em grande forma física.

Naturalmente nem todos estão sensibilizados para esse problema e terão maior prazer no desporto ao ar livre.

Mas no Inverno, com a noite a chegar mais cedo e o frio a complicar, muitos trocam as corridas de rua pelo ginásio, um local seguro para praticar exercício físico. A tendência é global e não apenas portuguesa, mas foi uma equipa de investigadores lusos que estudou a qualidade do ar nestes locais de desporto indoor e concluiu que, muitas vezes, eles não são tão saudáveis como podem parecer…

E a pesquisa é tanto mais reveladora, quanto é facto que não existem muitos estudos que examinem a qualidade do ar nos ginásios.

Foi numa parceria desenvolvida pela Universidade de Lisboa e a Technical University de Deft, na Holanda, que este estudo monitorizou a qualidade do ar em 11 ginásios da capital portuguesa.

Segundo Carla Ramos, que coordenou o estudo, foram instalados monitores de qualidade do ar em cada um dos espaços dos ginásios – os equipamentos mediram a poluição a partir do final da tarde e horário noturno, ou seja, quando os ginásios estão cheios.

Durante cerca de duas horas em cada ginásio, os monitores mediram níveis de poluentes normalmente encontrados dentro de casa, desde o monóxido de carbono, ozono, partículas como o pó e vários químicos libertados pelas carpetes e tapetes, produtos de limpeza, mobiliário ou tinta, incluindo o formaldeído.

QUANDO A LEGISLAÇAO “JÁ ERA”…

Desde 2006, lares, hospitais, centros comerciais, escolas e centros desportivos, entre outros tipos de edifícios públicos e privados, eram obrigados a submeter a qualidade do ar interior a auditorias periódicas.

Mas a partir de Dezembro do ano passado estas auditorias deixaram e ser obrigatórias, tendo esta alteração legislativa suscitado muitas críticas.

Segundo a Quercus, em artigo publicado em www.naturlink.pt , “a Qualidade do Ar Interior não depende só da qualidade do ar exterior, mas de muitos outros fatores, tais como a ocupação do espaço, as atividades desenvolvidas, os materiais de construção e o mobiliário, entre outros.

“Nos países europeus, os cidadãos passam mais de 90% do tempo em espaços confinados, tais como residências, escritórios, oficinas, fábricas, escolas, repartições públicas, meios de transporte coletivos ou privados. Existem muitos efeitos adversos na saúde que podem ser atribuídos à falta de Qualidade do Ar Interior, sendo os mais frequentes problemas respiratórios, oculares, dérmicos, mas que podem ir até casos mais graves como cancro, problemas imunológicos, do sistema nervoso e no desenvolvimento.”

 

***

 

O nível de conhecimento atual do ambiente que nos rodeia parece não ser, por si só, capaz de levar em frente medidas cada vez mais “verdes”. Este retrocesso na legislação é disto um bom exemplo.

É também por isso necessário que o consumidor faça valer cada vez mais os seus direitos…

Se vamos a uma loja que encerra às 7 da tarde, não é suposto que nos fechem a porta às 18 horas para limpeza do espaço.

Igualmente não é suposto um treino que se pretenda saudável ter de coexistir com nuvens de produtos desinfetantes, causando espirros e dores de cabeça, a nível imediato.

Mais tarde, a fatura será outra. E os espaços públicos, designadamente no caso dos recintos desportivos, terão de se conscientizar para o dever de garantir, aos usuários, o bem-estar que tanto apregoam!

 

MLG

Com referência à Universidade de Lisboa / Carla Ramos

e a colaboração da Quercus e Naturlink.

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