O PLÁSTICO NOSSO DE CADA DIA

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Quando comemos determinadas espécies de peixes existe o perigo de estarmos a ingerir micropartículas de plástico? De forma simples, esta pergunta coloca um novo problema do lixo plástico… – o de o podermos ter, à nossa mesa.

O lixo de origem humana, contendo elevada percentagem de plásticos, está presente desde as praias até às profundezas dos oceanos e chega a todos os habitats marinhos…
Depois de, em Abril deste ano, termos abordado a crescente problemática dos sacos de plástico em todo o Mundo, vamos hoje falar sobre o seu impacto nos ecossistemas e na cadeia alimentar…

Para isso contámos com a colaboração da Dra. Susana Garrido, Investigadora do IPMA e Doutorada em Ecologia Marinha pela Universidade do Algarve, que nos diz:
“O problema do lixo plástico é mundial, porque fragmentos mais pequenos, denominados microplásticos (de dimensãoinferior a 5 mm), estão distribuídos por todos os mares e oceanos e, apesar de não serem distinguíveis por imagens de satélite, são uma potencial ameaça para muitos ecossistemas marinhos. “

Impacto do lixo marinho, em estudo!

Segundo a investigadora, “existem alguns estudos já concluídos sobre a presença de microplásticos em águas portuguesas bem como projetos europeus com a participação portuguesa – e.g. projeto MARLISCO com a participação da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova, que pretende aumentar a consciência social acerca do impacto do lixo marinho.

“Em particular, o IPMA colaborou recentemente com a Universidade Nova numa recolha de amostras de plâncton ao largo da costa continental, onde se registou a ocorrência de microplásticos em cerca de 60% dessas amostras, tendo-se verificado que as áreas com maior concentração desses microplásticos eram ao largo de Lisboa e da costa Vicentina, o que está provavelmente relacionado com as descargas dos rios Tejo e Sado”, diz-nos a investigadora, acrescentando:

Microplásticos versus peixes de interesse comercial…

“No IPMA, estamos a dar continuidade ao estudo dos microplásticos, quantificando a sua ingestão por peixes pelágicos de interesse comercial (como a sardinha, carapau e cavala). Pretendemos com este estudo identificar quais as zonas, espécies e estádios de desenvolvimento que são os principais responsáveis pela acumulação de microplásticos na cadeia alimentar pelágica ao largo de Portugal continental.”

Sobre os motivos do foco do IPMA nestas espécies, diz-nos Susana Garrido:
“Foram vários motivos… Em primeiro lugar, dada a semelhança entre a gravidade específica dos microplásticos e do plâncton, os primeiros tendem a ser ingeridos por organismos que se alimentam de plâncton como os peixes pelágicos; depois, porque estes peixes são altamente predados por níveis tróficos superiores, tais como as aves, os mamíferos marinhos e até o Homem.”

Numa segunda fase, o IPMA pretende estudar o impacto da ingestão dos microplásticos (nomeadamente para o crescimento, reprodução e alimentação) para os principais organismos que os ingerem e para as cadeias alimentares marinhas (incluindo a propagação de contaminantes)…

Impacto nos ecossistemas marinhos… e na saúde humana!

Segundo a especialista, “o impacto dos microplásticos nos ecossistemas marinhos ainda não é completamente conhecido, mas sabe-se que os maiores riscos que a sua ingestão pode trazer são a osbtrução física que impeça ou dificulte a alimentação e digestão por parte dos organismos que os ingeram; lesões físicas em orgãos e tecidos como consequência da acumulação destas partículas; e a sua toxicidade… “, entre outras.

Já em relação à saúde humana, “sabe-se que vários componentes usados nos plásticos, como os ftalatos e o Bisfenol A têm o potencial de interferir com o sistema endócrino e são detectados no Homem, particularmente em indivíduos mais jovens.” E a investigadora acrescenta:
“Existem estudos que levantam a questão dos potenciais efeitos para a saúde humana, aquacultura e qualidade dos produtos de pesca, mas não são ainda conclusivos para caracterizar o efeito da acumulação de microplásticos pelo Homem, através do consumo de espécies marinhas…
“No entanto, dada a sua potencial toxicidade, os microplásticos são considerados poluentes marinhos e a Comunidade Europeia sugere que se monitorize a sua abundância e distribuição e se investigue a sua potencial toxicidade, pelo que se esperam nos tempos próximos mais estudos sobre estes impactos.”

ORIGEM DOS MICROPLÁSTICOS

Os microplásticos são essencialmente de origem terrestre, pelo que as maiores acumulações encontram-se em zonas costeiras. A sua origem é múltipla, desde as partículas plásticas produzidas em meio industrial até aos cosméticos como os esfoliantes e dentífricos, bem como a degradação em meio marinho de plásticos de maior tamanho, a exemplo dos vulgares sacos usados nos supermercados. Estes microplásticos concentram-se nas praias, rios e na superfície dos oceanos, representando uma ameaça a uma grande variedade de ecossistemas marinhos.

Agradecimentos:
Susana Garrido, Investigadora Pós-Doutorada
do Instituto Português do Mar e da Atmosfera – IPMA.

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