É um consumidor responsável e solidário? Saiba mais sobre o tema, a propósito do Dia Internacional do Comércio Justo, que se assinalou no passado dia 13…
Colocámos algumas questões à Dra. Susana Fonseca, da Quercus, designadamente sobre o consumo responsável e solidário por parte do grande público, sem esquecer a sensibilização cada vez maior do consumidor à exploração do trabalho humano, que nos confrange sobretudo quando se trata de crianças…
Sobre o consumo responsável e solidário, diz-nos a especialista: “Tudo começa com a perceção e a informação. É fundamental que as pessoas tenham presente que o que consomem (seja o que for, um objeto, um alimento, um serviço) tem um historial para trás e continuará a ter um historial para a frente, ou seja, tem um passado – que nos é em larga medida desconhecido – e um futuro, sobre o qual podemos ter um pouco mais de informação. A partir desta noção é importante dar o salto para nos mantermos atentos e informados. Claro que não podemos esperar que cada pessoa conheça a fundo o ciclo de vida de tudo aquilo que consome e usa no seu dia-a-dia, mas se começar a prestar atenção depressa perceberá o que deve evitar.
Direitos humanos. Rendimento justo. Impacto ambiental…
“Para além deste enquadramento, o primeiro passo é mesmo o de refletir sobre a necessidade de cada ato de consumo. Será que precisa mesmo de comprar? Pode pedir emprestado? Não vai desperdiçar – por exemplo, quando compramos quantidades maiores – só porque está em promoção)?
Se de facto tem que comprar, pode procurar perceber se o produto é produzido localmente ou, pelo menos, no país. Se não é (em alguns casos nem sequer é possível, por exemplo na área alimentar), o produto ostenta algum rótulo (http://www.ecocasa.pt/consumo_content.php?id=71) que aponte para a sua origem ser de comércio justo, ou seja, dá alguma garantia de que o produto foi produzido respeitando os direitos humanos e providenciando um rendimento justo a quem produziu, sem esquecer a redução do impacto ambiental?
Num contexto onde pouca ou nenhuma informação sobre os aspetos sociais e ambientais dos produtos e serviços que consumimos nos é facultada, podemos sempre optar por perguntar a quem vende. Quanto mais perguntas fizermos, mais pressionado o outro lado se sentirá para garantir transparência e facultar informação, o que nos ajudará a tomar decisões mais responsáveis.”
A força do consumidor…
“Sobre a exploração de crianças, de novo temos que nos manter informados, pois há várias organizações a nível internacional que seguem estes assuntos e mantêm grandes marcas “debaixo de olho”. Também podemos ir consultar as páginas das marcas e verificar se têm políticas e se implementam medidas tendo em vista eliminar o flagelo do trabalho infantil. E, de novo, fazer perguntas, sempre que a informação que temos à disposição não nos pareça suficiente. Podemos começar por um ou outro produto ou serviço e tentar contagiar os que estão ao nosso lado. Os consumidores têm uma enorme força. Basta que a assumam.”
Susana Fonseca, da Quercus – ANCN susanafonseca@quercus.pt
ROTULAGEM ENERGÉTICA
A Quercus, através do Projeto MarketWatch (www.market-watch.org.pt), visitou recentemente lojas online e físicas para verificar se os produtos sujeitos ao sistema de rotulagem energética e conceção ecológica cumpriam os respetivos regulamentos. A conformidade encontrada nas lojas físicas rondou os 74%, ou seja, três em cada quatro produtos apresentavam a etiqueta energética de acordo com a legislação. Nas lojas online a situação foi muito diferente e a conformidade foi de apenas 3%.
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COMO E PORQUÊ NASCEU ESTE DIA?
O conceito de Comércio Justo surgiu na década de 60 com o objetivo de garantir que os produtores recebessem a devida remuneração pelo seu trabalho, ao invés do “sistema” convencional, em que grande parte das receitas ficam para as entidades intermediárias entre o produtor e o consumidor. Além de criar condições sociais mais justas, o comércio justo pressupõe também a concordância das cadeias produtivas com padrões ambientais equilibrados.
Numa cadeia de comércio justo, existem apenas três entidades envolvidas no processo: o produtor, o importador (uma Organização Não Governamental de Desenvolvimento ou ONGD sem fins lucrativos associada ao movimento) e o vendedor final. Cada um destes intervenientes recebe em média um terço do valor de venda do produto ao público e o consumidor paga pelo produto um preço competitivo e com valor ético. Além de conseguir este equilíbrio de sustentabilidade em toda a cadeia, o comércio justo pretende ser também um movimento sensibilizador do consumidor para a relação direta entre as suas opções de compra e as condições de vida em diversas partes do mundo, e as maiores ou menores injustiças ao nível da comércio internacional. Praticar um comércio responsável tem, assim, implicações que extravasam o âmbito económico e incluem também as esferas social e ecológica.
Os dez princípios do Comércio Justo:
- Criação de oportunidades para produtores economicamente desfavorecidos
- Transparência e responsabilidade na troca de informação e na tomada de decisões
- Práticas comerciais justas, estáveis, duradouras, em respeito pelo bem estar social, ambiental e económico dos pequenos produtores
- Pagamento de um preço justo pelo trabalho dos produtores, sem desigualdades entre géneros
- Renúncia total ao trabalho infantil ou forçado
- Compromisso de não discriminação, igualdade de géneros e liberdade de associação
- Assegurar boas condições de trabalho, saudáveis e seguras
- Incentivo à capacitação dos produtores e desenvolvimento das suas competências
- Promoção dos princípios do Comércio Justo aos consumidores
- Respeito pelo ambiente: Recurso a matérias-primas provenientes de fontes exploradas de forma sustentável; Redução do consumo energético e uso de tecnologias com baixas emissões de GEE; Redução do impacto dos resíduos produzidos no ambiente; Primazia a métodos de produção biológica e a produtos reciclados ou biodegradáveis.